
Por: Jonathas Wagner
Premiações, em especial as premiações internacionais têm o poder de, de alguma forma, dar uma senhora sacudida na cultura nacional. Se se levar em conta os sucessos advindos das várias oportunidades em que artes e artistas brasileiros estiveram no limiar de ser agraciados com prêmios internacionais, concluímos que uma simples indicação já é pra lá de bom para dar uma entusiasmada nos fazedores de cultura e arte do Brasil. Esse entusiasmo tem o lado bom e o ruim. O bom, óbvio, é que mais pessoas, até então ignorantes do poder, da qualidade e da capacidade da arte tupiniquim, passam a procurar mais e assuntar quem é quem nas notícias sobre as tais premiações estampadas na mídia.
Desde que espocou nas redes, jornais e telejornais, que um filme brasileiro tinha caído nas graças dos gringos e, consequentemente, dos potenciais jurados gringos dos grandes festivais de cinema internacionais, a curiosidade dos brasileiros foi aguçada e nem mesmo um eventual boicote, ensaiado pelos do contra da cultura nacional progressista, deu certo.
O lado ruim é que, infelizmente – e normalmente, só quando a arte brasileira rompe as fronteiras nacionais é que a grande massa consumidora de entretenimento manifesta o seu interesse por tudo aquilo que é produzido dentro de nossas divisas. Tipo assim: não consumo, mas se os gringos tão falando que é bom então deve ser bom.
Seria bem melhor que a nossa arte (teatro, cinema, artes plásticas, música, literatura e etecetera) fosse mais consumida e reverenciada pela nossa gente. Sem a necessidade de aval de gringo.
Mas, para nossa tristeza, essa postura macro de não valorizar o que está perto e que fala a nossa língua se repete nas pequenas escalas da produção cultural e artísticas municipais. Da mesma forma que boa parte dos brasileiros só consome as belas coisas produzidas no país após eventual sucesso (e mais ainda quando esse sucesso recebe a aprovação e/ou premiação estrangeira), as boas coisas artísticas produzidas à nossa volta, na nossa cidade, na nossa região só recebem atenção quando alguém de fora do nosso convívio próximo aponta a beleza que há naquela arte.
Mas, noves fora, nada: o que sobra e realmente importa neste momento é que estamos em comemoração; em festa. Fernanda Torres, a grande atriz, filha dos também atores Fernando Torres e da grande dama do teatro brasileiro, Fernanda Montenegro, ganhou um dos maiores prêmios do cinema internacional: o Globo de Ouro. E isso concorrendo com estrelas como Nicole Kidman, Kate Winslet e Angelina Jolie.
De quebra, é bom lembrar que o Globo de Ouro é a referência e filtro para o Oscar, marcado para acontecer no início de março. Quem sabe não venha aí mais um prêmio para nosso cinema e para nossos atores e atrizes.
O filme “Ainda estou aqui”, baseado no livro de Marcelo Rubens Paiva, conta a história da sua mãe, esposa do então deputado federal Rubens Paiva, preso, torturado e morto pelo governo militar brasileiro, que instaurou uma ditadura no país nos anos 60/70/80 do século passado. Isso é um bônus no que diz respeito à vitória de Fernanda Torres; junto com a premiação abre-se uma cortina que contribuiu para a difusão internacional de um momento funesto da nossa história. E nacional também, já que o filme já foi assistido por mais de três milhões de brasileiros, que em grande parte (graça à desinformação que grassa nas redes) desconhece a nossa história recente.
Torçamos para que mais filmes, peças de teatro, atores, escritores e artistas brasileiros em geral continuem sendo descobertos, valorizados e premiados pelos gringos. A arte brasileira agradece.
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